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Os
evangelhos apócrifos
Livros cristãos que ficaram de fora da Bíblia
têm versões muito diferentes sobre Jesus, seus ensinamentos e
seguidores
PABLO NOGUEIRA
(pdiogo@edglobo.com.br)
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Toda história é contada pelos vencedores. Isso é verdade também para
a história de Jesus de Nazaré e seus ensinamentos, relatada nos quatro
Evangelhos do Novo Testamento. O cânone bíblico - o conjunto dos
textos considerados 'inspirados' - abriga os vencedores de uma batalha
doutrinária travada dentro da Igreja antiga, entre os séculos 2 e 5.
De fora ficaram mais de 60 outros escritos, que receberam o nome de apócrifos
(ocultos, em grego). Sobre eles pairava a acusação de deturpar a
doutrina original de Jesus, misturando-a com episódios fantasiosos e idéias
tiradas das seitas místicas que existiam nos primeiros séculos do
Cristianismo. O imaginário cristão, porém, recebeu-os de braços
abertos. Se hoje os católicos sabem os nomes dos reis magos que
adoraram Jesus e crêem que o corpo de Nossa Senhora subiu aos céus após
sua morte - fato que a Igreja considera como Dogma desde 1950 - é
porque, por vias indiretas, os apócrifos contornaram as proibições.
Os apócrifos são cartas, coletâneas de frases, narrativas da criação
e profecias apocalípticas. Além dos que abordam a vida de Jesus ou de
seus seguidores, cerca de 50 outros contêm narrativas ligadas ao Antigo
Testamento. Muitos têm nomes sugestivos como 'Apocalipse de Adão' ou
'Descida de Cristo ao inferno'. De alguns possuímos o texto integral.
Da maioria resta fragmentos ou se conhece por citações cronistas da
Antigüidade. Mas são principalmente aqueles ligados à vida de Jesus
que estão atraindo a atenção religiosos e pesquisadores, que os
reconhecem como fontes importantes para estudar o Homem de Nazaré.
'Há um século, Jesus era visto como um profeta apocalíptico judaico,
que anunciava a fundação de uma nova ordem vinda do céu. Cem anos
mais tarde estamos no extremo oposto: ele teria sido um mestre da
sabedoria, e os elementos sobre o Juízo Final seriam acréscimos
posteriores. Essa reviravolta tem a ver com o evangelho de Tomé'. A
opinião do teólogo holandês Rochus Zurrmond, expressa em seu livro
'Procurais o Jesus Histórico?' dá bem a medida da importância dada
pelos estudiosos ao que certos apócrifos contam sobre a vida de Jesus.
O interesse surgiu no fim do século 19, quando começaram a vir a público
misteriosos evangelhos descobertos no Egito.
O grande impulso, porém, viria a partir de 1945, e também do Egito.
Naquele ano, em Nag Hammadi, perto de Luxor, camponeses encontraram os
restos de uma biblioteca apócrifa. Guardados numa ânfora do século 4
estavam papiros contendo 52 textos diferentes. Um dele era o Evangelho
de Tomé, que os pesquisadores conheciam por citações em escritos da
Antigüidade. Somente nos anos 70 o conteúdo dos papiros de Nag Hammadi
foi completamente traduzido para as línguas modernas, com grande
impacto nas pesquisas sobre Jesus.
Leia a reportagem completa na edição de dezembro/2002 de Galileu.
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