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O
JOGO POLÍTICO
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Cônego
José Geraldo Vidigal de Carvalho
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O
suceder dos fatos em cada semana mostram claramente como há toda uma manobra
política por detrás de tantos pronunciamentos e medidas adotadas. Com notável
espalhafato a suspensão do racionamento de energia foi feito e o governo soube
explorar, demagogicamente, um evento que foi fruto, exatamente, de uma
indesculpável incúria, como os meios de comunicação social abertamente
tinham denunciado.
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Pessoas esclarecidas lançaram agora uma “cruzada nacional contra os juros
altos”. Diz o texto: “É que vivemos em um País de extremas contradições:
se um cidadão empresta seu dinheiro a juros de 2, 3 ou 5% é logo considerado,
sem piedade ou dúvida, agiota . Entretanto, sob o apanágio da
legalidade, Bancos e outras Instituições Financeiras vivem a ganhar rios de
dinheiro com empréstimos a juros bem mais elevados - escorchantes mesmo
- convivendo com lucros exorbitantes”. Depois de mostrar o lucro fabuloso dos
Bancos e Instituições Financeiras acrescenta algo impressionante a referida
nota: “Vale lembrar o fato do cidadão que depositou R$ 100,00 na Caderneta
de Poupança no dia do lançamento do real e hoje tem como resultado
R$ 374,00. Por outro lado, se esse mesmo cidadão tivesse sacado os mesmos R$
100,00 de seu Cheque Especial teria hoje uma dívida de R$ 139 259,00”.
Portanto, “não se necessita de mais argumentos para concluir-se que não
podemos deixar de iniciar um protesto forte e incansável contra
essa situação para lá de impiedosa, iníqua e mesmo esdrúxula”.
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O que muitos patrícios não sabem é que “nossas autoridades não podem
continuar buscando justificativas esfarrapadas para esse quadro caótico, pois
o País gasta anualmente R$ 300 milhões com juros da dívida, metade do
orçamento federal”. Pois bem, dia 21 os jornais anunciaram que a taxa de
juros havia caído um pouco. O governo havia reduzido a taxa básica de juros
da economia de 19% para 18,75 %, taxa ainda altíssima. A triste realidade,
entretanto, é que, como explicava uma das manchetes de um grande jornal: “Redução
não vai ter impacto imediato no bolso do consumidor”. |
O
que vai mesmo afetar o contribuinte é o que também foi noticiado no mesmo
dia: “CPMF estará em vigor até 2004”. Governo que não sabe administrar
apela mesmo para os impostos. Razão têm notáveis professores
universitários, os quais, com pertinência e sabedoria, vêm mostrando os
equívocos do atual governo. A verdade é que o povo precisa ficar atento à
sutileza dos mecanismos de concentração de riqueza e aumento da pobreza.
Deste desnível só pode resultar mais dominação. Cumpre a percepção
crítica e real das distâncias entre ricos e miseráveis as quais crescem em
virtude das tramas que envolvem os bastidores do poder. |
A
aceleração dos controles sociais não permite, tantas vezes, captar os
estratagemas empregados. Não é fácil a percepção clara da realidade em
que se vive. Há uma amputação estudada dos elementos que permitam uma
reflexão exata do que ocorre e até fracassos servem para impor a idéia de
triunfos! Estabelece-se mesmo um dilema irreal: ou fica como está ou o país
imergirá no caos, isto é, nenhum partido da base do governo deveria ter
candidato próprio, pois o Príncipe já ungiu o seu eleito e a oposição
está de antemão liquidada! É um reducionismo alarmante. É uma visão
típica dos deturpadores da história que dividem tudo entre o bem e o mal,
julgando-se eles os defensores da luz, pois o resto está nas trevas da
ignorância das batatadas! Daí o bloqueio das razões dos que querem mudar
para melhorar. O que se almeja, na pior das hipóteses, caso as forças
renovadoras logrem o triunfo nas urnas, é que se deixe aplainado o caminho
para o surrado slogan: “Ele voltará, pois deixou o governo nos braços do
povo”. Pobre povo, sempre massa de manobra”! |
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Professor do Instituto de Filosofia do Seminário de Mariana |
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