As regras do jogo do capitalismo global 
por enquanto favoreceram muito mais
os países industrializados do que as 
nações em desenvolvimento

Eurípedes Alcântara e Eduardo Salgado publicado pela revista Veja 

os grifos em vermelho são nossos

A globalização começou no mesmo instante em que o ser humano passou a se locomover em torno do mundo, mas seus contornos ficaram mais claros e espantosos durante a última década. Nos anos 90, ela entrou num ritmo jamais visto na história humana. Nesse período, os capitais passaram a circular instantaneamente de um país para o outro e as empresas multinacionais, escoradas em novo patamar de produtividade, foram buscar mão-de-obra mais barata em países da franja da Ásia ou da América Latina. Comprar um tênis americano feito na China com material de borracha importado da Malásia tornou-se tão corriqueiro quanto ver um país entrar em colapso porque investidores de risco levaram seus dólares de volta para as praças do Primeiro Mundo diante da suspeita de que aquele país passou a ser um risco para suas aplicações.


Convencionou-se uma data para o início, ainda que simbólico, da globalização turbinada dos mercados. Ela teria seu ponto de partida em 25 de dezembro de 1991, dia em que a bandeira vermelha com a foice e o martelo foi substituída no Kremlin, em Moscou, pelo estandarte tricolor da Rússia imperial. Como simbolismo, dificilmente se poderia obter espetáculo melhor. O fim do comunismo na extinta União Soviética enterrou a teoria e a prática do capitalismo de Estado. Desde então, o intervencionismo estatal na economia, em maior ou menor grau, se tornou uma noção retrógrada. Na realidade, os governos não abandonaram inteiramente seu papel de agentes econômicos e o liberalismo foi implantado no planeta apenas até certo ponto – o ponto que atende prioritariamente ao interesse dos países ricos. Nunca ficou tão evidente que os países desenvolvidos falam duas línguas em matéria de liberalização econômica. São a favor da queda de barreiras protecionistas contra seus produtos nos países em desenvolvimento, como o Brasil e a Argentina, enquanto continuam a sustentar, quando não a aumentar, suas barreiras contra a compra de produtos do Terceiro Mundo.

Ainda assim, a globalização abriu uma avenida de novas oportunidades para algumas nações em desenvolvimento que entraram no jogo global. Um estudo do Banco Mundial mostra que, pela primeira vez em 200 anos, foi revertida a tendência à desigualdade entre países ricos e pobres. Isso se deveu principalmente ao crescimento acelerado na última década experimentado por dois países mais populosos do mundo, Índia e China. O PIB da China praticamente triplicou em dez anos. A riqueza dos chineses aumentou, em uma década de globalização, o que levou cinqüenta anos para crescer sob o regime comunista fechado. A mundialização econômica derrubou preços dos fretes e das comunicações, transformando a paisagem empresarial do planeta. Corporações multinacionais com filiais em todos os cantos do planeta podem ser administradas via internet a um custo mínimo. Graças à automação das linhas fabris, às facilidades de transporte e ao preço decrescente das telecomunicações, a produtividade humana foi catapultada. Atualmente, a humanidade produz e faz chegar a seu destino, em apenas três anos, a mesma quantidade de mercadorias que levaria um século inteiro de trabalho com as condições materiais e tecnológicas predominantes em 1900.

O processo de globalização deixou também marcas de tragédia espalhadas pelo planeta – e esse é o grande motivo pelo qual o processo não deve ser encarado como um agente neutro. Ele produz riqueza, mas também miséria. Outra de suas características é a obrigação de aceitá-lo, quer se goste, quer não. A globalização é irreversível, e os países que mais estão sofrendo decadência no mundo atual são justamente aqueles que dela fugiram, por motivos ideológicos, como a Coréia do Norte ou Cuba, ou então por falta de condições mínimas de participar do jogo, como as nações africanas. Para os países do Terceiro Mundo que aceitaram o desafio, o mundo globalizado adquiriu um aspecto sombrio em alguns momentos.

A primeira experiência de encontro com o capitalismo global da Rússia no começo dos anos 90 foi um desastre econômico equivalente ao dos índios americanos em contato com a gripe e a varíola trazidas pelos conquistadores. Em poucos anos, as indústrias e os sistemas de educação e saúde russos foram dizimados. O país experimentou epidemias que havia erradicado no século XVIII. Ainda hoje, quando a Rússia, aceita na confraria da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), se aproxima velozmente do Ocidente, em diversos setores vitais o país ainda tem padrão quase africano. Vai demorar anos para se recuperar. A Argentina foi outra vítima. 

"A globalização é uma corredeira que libera forças terríveis. Ela tanto pode acelerar as economias de uma forma como nunca a humanidade conheceu como pode fazê-las naufragar também em tempo recorde", diz o economista americano C. Fred Bergsten, diretor do Instituto de Estudos Econômicos Internacionais de Washington. Essa usina de tensões se baseia mais que tudo na viagem incessante dos capitais de um país para outro e também nas maiores oportunidades de comércio que foram proporcionadas pelo processo de globalização. É interessante observar como os países interagiram com essa força inédita na história da humanidade. Cerca de 24 países em desenvolvimento aumentaram a integração com o resto do mundo entre 1980 e 2000 e viram sua renda crescer mais rápido, a expectativa de vida aumentar e melhorar os índices de educação. Entre eles houve variações. Mas, comparados aos de nações que se fecharam, os avanços foram notáveis. A renda per capita desse grupo de países, onde moram 3 bilhões de pessoas, teve crescimento anual médio de 5% nos anos 90. Os benefícios foram sentidos por nações completamente diferentes, como China, Hungria e México, de acordo com o estudo do Banco Mundial "Globalização, crescimento e pobreza: a construção de uma economia mundial inclusiva". Nesse período, muitos países pobres conseguiram exportar produtos industrializados pela primeira vez. Outros aumentaram as vendas externas desses artigos de forma surpreendente. Em 1980, os bens industrializados representavam menos de 25% das exportações dos países em desenvolvimento. No fim dos anos 90, chegaram a mais de 80%.

Nos países pobres, o dinheiro necessário para criar empresas e empregos é escasso. Por isso eles são tão dependentes dos humores dos donos do capital. A globalização tornou países antes fechados como ostras mais transparentes e, portanto, mais aceitáveis como portos de destino do capital mundial. Com a chegada de investimentos externos diretos, aqueles destinados a projetos de longo prazo, como a construção de fábricas, resolve-se o problema de escassez de recursos e também se tem acesso a novas tecnologias. Foi exatamente o que a China fez nas últimas décadas. Em 1975, a renda per capita americana era dezenove vezes maior que a chinesa. Vinte anos e bilhões de investimentos mais tarde, os americanos estavam apenas seis vezes mais ricos. Ironicamente, os comunistas chineses ajudaram a provar que o capitalismo é indispensável para tirar as pessoas da pobreza. (como sempre a revista esquece de dizer que os paises estão pobres e não são pobres,  pois o monetarismo transformou riquezas em papel pintado,dólar, e não em bens a matéria prima foi aviltada e o industrializado deles super valorizado)

A outra fonte de recursos que a globalização potencializou foi o comércio internacional. Nesse particular, os países pobres ou em desenvolvimento podem reclamar que foram lesados. Acreditaram numa falsa promessa. Embora as estatísticas mostrem que as exportações de países como o Brasil e o Chile cresceram mais que a média mundial na década passada, o fato é que os ricos ainda não se dignaram a enfrentar seus lobbies internos e participar de forma menos protecionista no comércio com os países mais pobres. "Não concordo quando ouço que instituições como o Fundo Monetário Internacional ou a Organização Mundial do Comércio favorecem os países ricos. A situação é bem pior. Essas entidades favorecem interesses privilegiados dentro dos países ricos. Ao americano médio não importa que o governo aumente as tarifas do aço. Isso interessa a grupos localizados. O país como um todo paga um preço alto por essas medidas", diz Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia do ano passado.

Os países ricos gastam 350 bilhões por ano para proteger seus agricultores. (isto em parte é falso pois com a proteção ao seu mercado eles aviltam o preço internacional , como copram muitissimo mais do que produzem acabam comprando a preço menor isto faz com que o aplicado em insentivo seja na verdde um investimento que retorna com juros)Isso é o pior dos mundos para nações em desenvolvimento, como o Brasil e a Argentina, mais competitivas nessa área que a maioria dos países desenvolvidos. Os agricultores do Japão, dos Estados Unidos e da Europa impedem a entrada de produtos agrícolas de fora, plantam com a ajuda gorda dos governos e, pior, ainda vendem seus produtos subsidiados em outros mercados. Num tom mais otimista, muitos analistas acreditam que até mesmo esse viés pró-rico deve ser revertido com o aprofundamento da globalização. "A liberalização do setor agrícola é apenas uma questão de tempo", disse a VEJA o brasileiro Luiz Olavo Baptista, um dos sete juízes da Organização Mundial do Comércio (OMC), o órgão que regula disputas comerciais. Os agricultores dos países ricos têm conseguido subsídios e barreiras de proteção graças ao barulho que fazem. Mas a cada dia fica mais difícil sustentar essa injustiça. Em contraste com o que acontecia alguns anos atrás, hoje americanos e europeus já aceitam incluir os produtos agrícolas nas rodadas de negociações planetárias.

Os ganhos institucionais do processo de globalização contam-se entre aqueles que mais resultados positivos trouxeram para boa parte do planeta. "A aceitação quase universal das idéias de democracia e liberdade é um avanço incomensurável", diz o presidente Fernando Henrique Cardoso.(vejam que autoridade é chamada a opinar) Realmente, não há guerra nos confins do mundo que não chame a atenção das pessoas nos grandes centros. A prática da corrupção, embora seja praga de difícil erradicação, é mais vigiada e punida hoje que em qualquer outro período da história humana. (outro engodo os meios de comunicação amestrados nunca levantaram um item sobre como sai nossas riquezas daqui para fora, quem fiscaliza uma Vale do ]Rio Doce que desde a extração até a saida dos navios é tudo feito dentro dela mesmo quem nos garante que o revelado é o que saiu??? Todo o minério de manganês foi retirado do estado do Amapá pela Icome e depositado em "natura" nos EUA. Parte de nosso solo saiu daqui para lá onde esta a anti corrupção???) Parece haver uma saída até para o mais perturbador fato da globalização, o surgimento de uma superpotência militar e econômica incontrastável, os Estados Unidos. Os especialistas prevêem que o poder americano centralizado vai, lentamente, evoluir para um poder compartilhado.(iiiiiiiiii piada) Os Estados Unidos serão um "colosso interdependente" na definição do estudioso Joseph S. Nye Jr., professor da Universidade Harvard e uma das maiores autoridades mundiais em relações internacionais.Leiam sobre o consenso de Woskinton 

O poder americano hoje é indiscutível. Os Estados Unidos têm um pouco menos de 5% da população mundial, mas absorvem 27% da produção anual de petróleo do mundo.(isto é poder indiscutivel ou dependencia) Respondem por quase 30% do produto mundial bruto e gastam o equivalente a 40% de todos os investimentos mundiais com defesa. Desde Roma, nenhuma nação foi tão superior às demais. Isso, no entanto, não impediu que um grupo de malucos islâmicos( eis ai a face da mídia amestrada, o que não está de conforme com os ditames de seu adestrador é maluco) destruísse as torres do World Trade Center. Há limites para o poder ianque. "Não vamos conseguir vencer a guerra contra o terrorismo sozinhos", disse Nye a VEJA. Nem a guerra cultural, que hoje parece vencida pelos Estados Unidos, é uma conquista definitiva. O que se nota é um avanço das culturas nacionais de cada país. "O mundo não vai transformar-se numa grande Disneylândia", afirmou a VEJA Peter Berger, professor de sociologia da Universidade de Boston. Junto com Samuel Huntington, da Universidade Harvard, Berger coordenou uma pesquisa sobre globalização em várias partes do mundo durante os três últimos anos.

Quando se examina o núcleo gerador da força financeira da globalização nos Estados Unidos, observa-se também um processo muito interessante em curso. A globalização se baseou principalmente num tripé formado pelo desenvolvimento das telecomunicações, pela alta tecnologia e pela ampliação geométrica do papel do capital financeiro como instrumento de aceleração da economia. Cada um desses pilares enfrenta atualmente desafios que, por sua magnitude, podem colocar em perigo o capitalismo em escala mundial. As telecomunicações estão sendo vítimas do próprio sucesso. O custo médio das chamadas telefônicas equivale hoje a 1% do que era há algumas décadas. Calcula-se que o setor mundial de telecomunicações esteja assentado em um prejuízo acumulado de 1,2 trilhão de dólares, quase o dobro do PIB brasileiro. O segundo sustentáculo da globalização, a indústria de alta tecnologia, também passa por um momento delicado. Vive-se uma ressaca dolorosa que se segue a um período em que ganhos reais e virtuais chegaram a níveis delirantes. Dot.Con, um livro recentemente lançado nos Estados Unidos sobre o estouro da bolha especulativa das empresas digitais, faz um relato assustador do período. "O fenômeno da bolha de internet foi uma alucinação coletiva de superpotência hegemônica acreditando que tinha encontrado o segredo da prosperidade eterna", escreveu John Cassidy em Dot.Con. "Não vale agora culpar apenas Wall Street e os especuladores. Todos acreditamos que comprando ações de internet ficaríamos milionários." Empresas digitais que valiam centenas de bilhões de dólares hoje são vendidas por um punhado de milhões – se tanto. É o caso do Napster, o fenômeno de música digital MP3, que valeu 8 bilhões de dólares e acabou comprado, na semana passada, pela grupo alemão Bertelsmann por um milésimo disso.

O mais preocupante dos problemas atuais, no entanto, é a crise de confiança no mais robusto dos pilares do tripé do capitalismo global, a formidável galáxia financeira dos Estados Unidos. "Toda nossa riqueza é baseada na idéia de que certos padrões éticos nunca são violados. É justamente isso que está sendo posto em dúvida atualmente", afirma o americano Felix Rohatyn. Eis um crítico que vale a pena ser ouvido. Com quarenta anos de experiência no mercado financeiro, ele foi secretário do Tesouro e embaixador dos Estados Unidos na França entre 1997 e 2000. Rohatyn diz que enquanto representou seu país na Europa foi um dos mais entusiastas evangelistas da globalização e do modelo americano de capitalismo. Agora, ele admite, não seria mais tão enfático. "Sempre preguei que nossa força estava em ter um capitalismo popular, com dezenas de milhões de investidores em bolsa. A verdade é que esse sistema está em perigo", diz Rohatyn. Entre as ameaças certamente estão os recentes escândalos envolvendo megaempresas-símbolo do vigor econômico americano, como a Enron. Em dezembro do ano passado, essa gigante do setor de energia quebrou em meio a uma avalanche de fraudes contábeis, num tombo de dezenas de bilhões de dólares. Em valores financeiros, está-se diante da maior falência da história do capitalismo. Do ponto de vista ético, foi a mais perturbadora. Afinal, todos os mecanismos de proteção do investidor falharam clamorosamente no caso Enron. Pior, ficou a sensação de que quem devia apontar as falcatruas foi conivente e até se beneficiou delas. A empresa de consultoria e auditoria Arthur Andersen viu sua reputação afundar no episódio. Praticamente falida, a Andersen está tentando fundir-se com alguma concorrente para salvar o pouco que restou de seu patrimônio. É um golpe atrás do outro na confiança do investidor americano. Mais recentemente veio a condenação de uma das maiores corretoras americanas, a Merryll Lynch. A tradicionalíssima corretora foi obrigada a pagar na semana passada multa de 100 milhões de dólares por ter produzido análises positivas falsas sobre ações do interesse de seus diretores. "A maioria dos investidores ainda confia no sistema e culpa as maçãs podres (no cesto de maçãs saudáveis) pelos problemas recentes. Mas a verdade é que a podridão é bem mais estrutural do que eles pensam", escreveu nesta semana a colunista Jane Bryant Quinn, da revista americana Newsweek.
A verdade é que a globalização subverteu os valores mesmo sabendo que o dólar hoje não passa de papel pintado sem lastro no padrão ouro, o tornou medida de riqueza que chegou ao absurdo de ser maior que os bens em si o mercado financeiro hoje é virtual.Cuiden-se humanos mas o fim de nossa sociedade pode vir do caos que os incompetentes novos romanos estão levando a todos na imbecialização coletiva. 
O FMI é um cobrador de imposto que não mais consegue esconder o rombo de Roma.

Do alto de sua longa rodagem em Wall Street, Felix Rohatyn tocou também numa questão que pode parecer, à primeira vista, muito distante da vida das pessoas comuns. Ele é um dos muitos analistas preocupados com uma moderna e popular ferramenta financeira, os chamados derivativos. Derivativos são operações que hoje figuram como um dos pilares de sustentação da gigantesca catedral financeira dos Estados Unidos e, por reflexo, do mundo. São, em resumo, apostas feitas em algum índice futuro. Pode ser, por exemplo, a taxa de juros, a cotação do barril de petróleo ou a inflação americana. Usa-se esse instrumento para dar segurança aos investimentos. Se alguém investe em refinamento de petróleo, pode ser útil reservar uma parte do capital para apostar em energia elétrica no mercado financeiro. Caso o preço do petróleo afunde, a energia elétrica subirá – e assim as perdas de um negócio são compensadas pelos ganhos de outro. As combinações mais complexas de investimentos em derivativos podem ter centenas de variáveis. Pois bem, existem hoje 120 trilhões de dólares colocados nessas apostas. "Em 1990 o total de derivativos não passava de alguns bilhões de dólares e representava um mercado muito vigiado. Hoje é trilionário e não há nenhuma instituição reguladora em cima dele", diz o economista Paul Krugman, professor da Princeton. "Isso contribui para o descrédito do sistema como um todo." O tom alarmista dos críticos são as modernas trombetas do apocalipse. Elas sempre soaram para o capitalismo em toda sua história. A crise final do capitalismo é uma das mais cultivadas utopias de seus adversários. Obviamente, não se está diante desse caso agora. O que existe é um perigo bem palpável de que o investidor americano médio, as donas-de-casa, os profissionais liberais, os comerciantes e os funcionários públicos percam a confiança no sistema de captação de poupança das bolsas de valores. Se isso ocorrer, as pessoas serão compelidas a vender suas ações. Nesse cenário, um crash da bolsa seria inevitável, com conseqüências desastrosas para todo o mundo.

A derrocada do capitalismo popular americano significaria uma avaria grave no sistema, uma explosão capaz de colocar em risco não apenas a prosperidade dos EUA, mas a de todo o planeta. "A classe investidora é hoje o mais importante componente do capitalismo. Descontentá-la é um risco que não podemos correr", diz Krugman. Pois bem, desde o estouro da bolha de internet, essa classe investidora americana perdeu 5 trilhões de dólares – ou 30% de seus recursos em ações. Foi a maior queima de riqueza da história desde que Wall Street derreteu, em 1929. "Não foi dinheiro de mentira que sumiu, mas poupança real, que estava sendo acumulada para aposentadoria, pagamento da universidade dos filhos ou de contas hospitalares", escreveu a revista BusinessWeek numa reportagem de capa intitulada "A traição do investidor". Não se pode brincar com a confiança dessa classe investidora. Ela é muito poderosa. Em 1990, a classe média americana tinha investidos em bolsas 710 bilhões de dólares. No fim de 2000, essa quantia chegava a 2,5 trilhões de dólares. São mais de 100 milhões de investidores que confiam suas economias às bolsas de valores. Hoje esse mesmo americano tem 72% de suas poupanças lastreadas em ações. "Com tanto dinheiro da economia popular em jogo, o bom funcionamento do sistema financeiro é uma questão de segurança nacional", diz Eliot Spitzer, o promotor de Nova York que conseguiu a condenação da Merryll Lynch. Spitzer está investigando também a Salomon Smith Barney, a Morgan Stanley e três outras grandes corretoras. Ele vem fazendo uma carreira muito parecida com a do ex-prefeito de Nova York Rudolph Giuliani, que como promotor se projetou na política ao desmantelar a Máfia siciliana na cidade. Que Spitzer hoje seja comparado a Giuliani é um sinal dos tempos. Por um lado, um péssimo sinal. Por outro, é uma prova de que a globalização, longe de ser mais um processo de dominação, como foi a colonização, é uma conquista de toda a humanidade. Uma conquista que precisa ser reinventada a cada dia.

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