CESAR BAIMA (jornalista)
(Estamos Reproduzindo este artigo)
O ano de 2001 marca um triste aniversário para o Brasil. Faz 25 anos
que o país detém um título mundial pouco nobre: o de campeão da má
distribuição da renda. Mesmo quando a comparação é feita com nações
pobres da África, o país perde feio. Segundo levantamento do Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) - órgão ligado ao Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão -, os 10% mais ricos da população
brasileira embolsam 28 vezes a renda obtida pelos 40% mais pobres.
- Em Zâmbia, a mesma proporção é de 17 vezes.
- Na na Costa do Marfim, é de 20 vezes.
- No Quênia, é de 21 vezes
- e em Botsuana, 22 vezes,
- nos Estados Unidos a relação fica em 5,5 vezes
- na Argentina em 10.
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A pesquisa do Ipea foi feita com base em dados do Banco Mundial (Bird), do Banco Interamericano de Desenvolvimento
(BID), da Organização das Nações Unidas (ONU) e do IBGE. Ela faz parte do livro Desigualdade e Pobreza no Brasil, que está sendo lançado pelo instituto este mês.
O livro, que esquadrinha as origens da pobreza no Brasil e os mecanismos econômicos para combatê-la,
mostra ainda que, no país, os 10% mais ricos da população se apropriam de cerca de 50% da renda total das famílias. No outro extremo,
os 50% mais pobres detiveram, no período de 1977 a
1999, analisado pelo estudo, um pouco mais de 10% da
renda. Já o ''seleto grupo composto pelo 1% mais rico da sociedade'', de acordo
com os pesquisadores do Ipea, concentra renda superior àquela apropriada pelos 50% mais pobres.
(E ai você é cristão? Acredita em Deus?
Saiba que os cristão verdadeiros (não os industrializado pelo império
romano) eles dividiam entre si tudo que possuiam. Entre firme, e agora
na luta por um mundo mais justo, junte-se a nós)
Quadro imutável - ''Do ponto de vista internacional, não existe país no mundo com uma desigualdade como a nossa, nem país com renda per capita equivalente ou pior com desigualdade
assim'', afirma o pesquisador do Ipea Ricardo Henriques, um dos autores do estudo que comparou o grau de desigualdade de renda no Brasil com o observado em outros países. Para tanto, os economistas do Ipea utilizaram como medida os coeficientes de Gini, o índice de Theil, a razão entre a renda média dos 10% mais ricos e a renda média dos 40% mais pobres; além da razão entre a renda média dos 20% mais ricos e a renda média dos 20% mais
pobres.
Também não há país em que tal desproporção se mantenha por tanto
tempo. Segundo Henriques, o Brasil está completando um quarto de
século de injustiça social, em que nem a abertura política nem a
estabilidade econômica mudaram o quadro da desigualdade no Brasil. ''Há
mais de 20 anos o país se encontra num patamar considerado muito
ruim'', diz o pesquisador.
Henriques usa os dados das Pesquisas Nacionais por Amostragem de
Domicílios (PNADs) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) para demonstrar a estagnação da desigualdade no país nos
últimos anos. Apesar da pequena melhora apresentada na distribuição da
renda após o Plano Real, em 1999 a riqueza continuava sendo repartida
na mesma proporção do final da década de 70.
Tanto em 1978 quanto em 1999, os 10% mais ricos ainda se apropriavam
de pouco mais de 47% da renda nacional, enquanto os 40% mais pobres
viram sua fatia do bolo aumentar meio ponto percentual, passando de
7,6% para 8,1%.
Desafio histórico - Na opinião de Henriques, a solução da desigualdade
social no país constitui um desafio histórico que está sendo apresentado
à sociedade. ''A desigualdade no Brasil é inerte. O acordo social brasileiro
é excludente na sua origem. Mesmo e sobretudo após o último governo
Getúlio Vargas (1950-54), se criou a base de um acordo social em que
era possível se criar um padrão de desenvolvimento excluindo-se parte
da população'', diz.
De acordo com Henriques, a sociedade brasileira convive há tanto tempo
com a desigualdade que passou a considerá-la um fenômeno natural e
perdeu a sensibilidade a ela. ''O único caminho para erradicar a pobreza é
se desnaturalizar a desigualdade. Ela tornou-se algo natural. O Brasil
anda, e anda bem, só com a parcela mais rica da população. Como o país
é eficiente, isto é, tem crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) e da
riqueza, com a exclusão, passa a ser senso comum que é normal ser tão
desigual'', considera. |